MENSAGEM 7º DOMINGO APÓS EPIFANIA – Levíticos 19.1-2; 9-18
Em nome de Jesus. Amém.
Estimados amigos aqui do Seminário, num final de semana do estágio, eu tive a oportunidade de participar de um encontro esportivo de jovens luteranos. Aconteceu que, em vários momentos durante o evento, me chamou atenção um discurso sempre repetido antes de cada jogo, principalmente antes das partidas de futebol. Juntavam-se os jogadores numa rodinha e um pastor ou um líder jovem repetia sempre o mesmo discurso: “– Olha pessoal! Como jovens cristãos e luteranos, nós devemos dar exemplo nos jogos. Vamos mostrar aos de fora que somos ‘diferentes’.” Entretanto, no decorrer de cada partida, acontecia o mesmo quebra-pau que vemos em outros jogos, mesmas discussões e em alguns casos até briga.
Alguns poderiam perguntar: – Mas e aí, qual a conexão desse exemplo com o texto lido hoje? Acredito que esse exemplo traz à tona um assunto muito interessante que aparece no texto de Levítico, do qual quero falar com vocês. Vou falar a respeito da santidade.
A igreja continua a pregar a respeito da santidade. Em vários momentos da vida ouvimos falar do viver santo. No texto lido antes, Deus convida todo o seu povo a ser santo. (Ler v.2 do texto) Mas, de qual santidade Deus fala aqui? O fato de sermos cristãos torna nossa vida mais santa de que a vida das pessoas do mundo? Somos de fato os santos de Deus?
Queridos ouvintes, como vimos no exemplo antes citado é comum entre os religiosos, ou melhor, entre os cristãos, dar grande enfoque na boa conduta da pessoa – principalmente a boa conduta que deve ter o povo de Deus. No decorrer de toda a Bíblia encontramos mandamentos ou indicações de Deus da melhor maneira de se viver. No texto indicado para hoje, Deus fala as melhores maneiras do seu povo agir: ajudar os pobres e necessitados, não furtar, não mentir, não amaldiçoar, não cometer injustiça, não atentar contra a vida do próximo e nem se vingar. Estes são, sem dúvida, os melhores exemplos de como ter uma vida sadia e feliz nesse mundo. No entanto, na medida em que se dá extrema ênfase à boa conduta que o homem deve ter, corre o risco de se cair no grave problema da “ilusão”. Isso mesmo, a ilusão.
O ser humano gosta de mostrar aos outros certo grau de santidade. Afinal de contas, quem é que gosta de se apresentar como exemplo de imperfeições e falhas? O ser humano gosta e quer se apresentar aos outros como “exemplo de vida”. No entanto, o problema é que pode ocorrer, e é muito fácil de ocorrer, é o cristão acabar criando uma ideia ilusória de si próprio. Crer que por não ter matado ninguém durante a semana, não ter xingado ninguém durante o dia ou não ter furtado dinheiro para comprar seu pão de cada dia, ele está conseguindo permanecer no alto grau de santidade que Deus exige.
Quando iludido a respeito de si próprio, é muito fácil olhar para um pecador que não conseguiu permanecer no alto grau de santidade e orar como o fariseu em Lucas 18: (Ler Lucas 18.11-12). Esta é a ilusão que Deus condena. A ilusão que vê um adúltero ou um assassino como alguém inferior e diferente de nós. Estimado ouvinte, pergunte a alguém preso por assassinato, caso ele acordou de manhã e pensou: – Já sei! Vou matar alguém hoje! Não, meus amigos! Sua ação desabrochou do mesmo coração que habita em você que me ouve e em mim. Os sentimentos que o levaram a cometer tal ato também habitam dentro do seu e do meu peito. Deus é que não deixa que esses sentimentos aflorarem com tanta intensidade em nós. Deus, constantemente, nos impede de cometermos ações consideramos escandalosas aos olhos do mundo, ações que poderiam desestruturar e acabar com nossa vida terrena. Isso, porque somos melhores? – Não! Mas, porque Deus tem misericórdia de nós.
“Santo sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus sou santo.” Acredito que podemos olhar essas palavras não apenas como um mandamento, mas também como uma “promessa” de Deus ao seu povo. Promessa que já foi cumprida no passado com a morte de Deus numa cruz. Promessa se cumprirá completamente na ressurreição. Mas tenho plena convicção em dizer que é uma promessa que Deus já cumpre diariamente na nossa vida. Somente Deus é quem torna o dia a dia do seu povo santo.
Cada aula ministrada por um professor, cada minuto de estudo para uma prova de hebraico, cada momento que marido dá atenção à sua esposa ou namorado à namorada, a dedicação de pai e mãe ao cuidar do filho, cada abraço do vovô e da vovó nos netinhos e até cada campão que jogamos dia de sexta-feira, são obras santificadas pelo nosso Deus. Deus é quem santifica toda a nossa vida. Sem dúvida, o fato de sermos cristãos não nos torna melhores do que as outras pessoas. A única diferença é que você que me ouve sabe do grande amor que o Santo Deus tem por você, assim como você é.
De início, citei o discurso presente no começo de cada jogo. Tenho sérias críticas a respeito do mesmo, justamente por tentar passar uma borracha em cima da natureza que está arraigada no coração homem; natureza que muitas vezes se aflora num jogo de futebol. (Quem joga futebol, tente perceber isso em vocês mesmos na próxima partida.) Na verdade, o discurso deveria ser outro: “– Como cristãos, sabemos que podemos nos exaltar, como em qualquer outra partida de futebol. Mas, como cristãos, sabemos reconhecer quando erramos e quando precisamos pedir perdão.”
Meus queridos amigos, não precisamos tentar de todas as formas expressar aos outros a nossa santidade. Não precisamos descer para o campão de batina ou de mãos dadas para expressar o quanto somos santos. O que precisamos é continuar vivendo. Cumprir nossos a afazeres diários sabendo que Deus está ao nosso lado – nos observando, rindo conosco (principalmente com os ‘bolas murchas’ do campão); Deus chorando; Deus ajudando a cuidar de seus filhos e de seus netos; e santificando cada ação nossa. O Deus do povo de Israel, o nosso Deus, santifica não somente o nosso momento de culto, mas toda a nossa vida.
A perícope de hoje termina com o belo mandamento dito também por Jesus e que todos vocês conhecem – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Ler v.18) Me respondam se tudo o que disse anteriormente é ou não é amor ao próximo? Respondam-me se cuidar dos familiares, dar aula para futuros pastores e estudar para um dia consolar corações é ou não é amar o próximo? Vocês amam o próximo. Vocês vazem isso no seu dia a dia e quando falham em algum aspecto, saibam que Deus está pronto para lhes perdoar e ajuda-los sempre a amar mais e mais.
E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. (Fp 4.7) Amém.
Aluno: Raul Saulo Pagung, sexto ano teológico, Seminário Concórdia.