A Oportunidade Perdida - Mc 10.17-22
“O cavalo está passando encilhado” é um ditado gaúcho para definir a oportunidade que surge diante de alguém para conseguir algo importante na vida. Talvez seja única, não se repita. Caso a pessoa não montar no cavalo, poderá perdê-la para sempre. Talvez esse ditado se aplique para resumir aquilo que nos conta o texto do evangelho. O cavalo passou encilhado diante daquele homem rico que foi falar com Jesus e, pelo que parece, ele não montou no animal. Quais as consequências? Falaremos sobre elas logo a seguir.
Mc 10.17-22 é um texto que descreve uma ação onde havia apenas dois personagens. Depois de ler o texto é possível perceber algumas características de um personagem e apenas uma de outro. A respeito daquele homem podemos dizer o seguinte: via Jesus apenas como um mestre, um ensinador; pensava que a vida eterna se atinge por meio daquilo que se faz; e sua maior confiança estava depositada nas muitas propriedades que possuía. Sobre o outro personagem, Jesus, o texto revela uma coisa: Jesus amou aquele homem. Amou-o como ele era, com seu pensamento errado a respeito de Jesus, com sua ideia equivocada sobre salvação e também com seu grande apego nas suas propriedades, nas quais confiava acima de tudo. O evangelista Marcos julgou muito importante registrar o amor de Jesus por aquele homem rico. Este texto também se encontra em Lucas e Mateus, mas nenhum dos dois faz o registro do amor de Jesus por aquele pecador. Os leitores de Marcos eram romanos na sua maioria. Logo, não é errado imaginar que o evangelista quisesse destacar o fato de que o amor de Jesus não é seletivo, mas também se dirigia a um judeu com todos os equívocos que trazia consigo.
O texto parece revelar que Jesus teve dois objetivos com aquilo que falou para o homem rico: o de mostrar que não era apenas um mestre, um ensinador e também o de revelar para o homem que o seu zelo por cumprir os mandamentos e ainda fazer algo a mais que, porventura, faltasse para alcançar a vida eterna, não era o suficiente, pois lhe faltava uma coisa, a principal: “Vai, vende tudo o que tens, e dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céu; então, vem e segue-me”. Faltava-lhe uma obra para ser salvo, uma grande obra! O quê? Uma obra? Será isso mesmo, meus alunos de Sistemática 2? Será que o texto contraria aquilo que estudamos naquela disciplina?
Não há como negar que se tratava de uma obra. No entanto, caso aquele hom
em a fizesse, a faria por uma única razão: por confiar na palavra de Jesus, não de um mestre que estava colocando diante dele ainda algo a fazer, porém do Senhor que mostrava para o homem o que verdadeiramente lhe faltava. Não era a venda das propriedades e a doação do dinheiro para os pobres! Não, era outra coisa: era seguir a Jesus, confiando nele como o Messias, o Cristo, o Salvador do mundo, o único capaz de lhe dar aquilo que desejava alcançar, ou seja, a vida eterna. O que faltava para o homem era confiar no objeto certo. Não eram os mandamentos, os quais julgava cumpri-los desde a juventude. Não eram suas grandes e ricas propriedades, mas Jesus, aquele que ali estava diante dele. A venda das propriedades e o dinheiro dado aos pobres seria a demonstração de que o homem passava a confiar no objeto certo, em Jesus. A confiança que salva é apenas uma: aquela que está no objeto certo. Ela salva não por ser confiança, mas por causa do que recebe do objeto, por causa do que recebe de Jesus. A confiança, ou a fé, é somente o meio pelo qual recebemos o que Jesus traz para aqueles que o seguem.
O cavalo passou encilhado diante daquele homem e ele não o montou, pelo menos naquela ocasião. Se isso ainda aconteceu mais tarde, não o sabemos. Tomara que sim! Aquele homem se encontrava entre duas coisas: o amor de Jesus por ele ou o amor dele por suas muitas propriedades e a riqueza que elas lhe davam. Não temos as riquezas daquele homem certamente, contudo também possuímos nossos bens que amamos muito. Jamais estaremos livres de imitar aquele homem. Isso acontece quando consideramos o que temos, o que gostamos, o que desejamos, como as coisas mais importantes, mais confiáveis, mais seguras para dar sentido e gosto para nossa vida. Acabam se tornando mais urgentes do que seguir a Jesus em fé, com a confiança de que dele vem o maior tesouro: o tesouro do céu. O que nos salva desse perigo? O que nos salva de não montar no cavalo que passa encilhado porque, enganados, damos mais atenção e valor para outras coisas? O que nos salva é o olhar amoroso de Jesus para nós. No meio desta permanente tensão em que vivemos, entre o amor de Jesus por nós e o nosso amor por outras coisas, o Salvador olha por nós com amor. Por isso ele faz tudo que precisamos para não termos dúvidas, não termos medo de que a confiança nele nos traz a maior riqueza: o tesouro no céu. Tudo depende do olhar amoroso de Jesus por nós, aquele olhar que Marcos registrou no seu relato. Aquele olhar que ele nos dirige quando chega a nós junto da água do batismo; aquele olhar que ele volta sobre nós quando se aproxima de nós por meio do seu evangelho; aquele olhar que ele direciona a nós tão graciosamente quando vem com o pão e o vinho da santa ceia! É do olhar amoroso de Jesus que aprendemos onde está o objeto certo da nossa confiança para salvação! É do olhar amoroso de Jesus que brota o poder para continuarmos confiando na coisa certa! É do olhar amoroso de Jesus que nasce o perdão para as vezes em que caímos em desconfiança diante do que ele nos oferece! É do olhar amoroso de Jesus que, no dia do seu retorno à terra, receberemos o glorioso convite: “Venham, benditos de meu Pai, entrem na posse do reino que está preparado para vocês”. O reino celeste, o verdadeiro e maior tesouro! Como é bom viver debaixo do olhar amoroso de Jesus! Amém.
Prof. Dr. Paulo Moisés Nerbas, em mensagem proferida no devocional com Santa Ceia do dia 14 de outubro de 2015 do Seminário Concórdia.
Mc 10.17-22 é um texto que descreve uma ação onde havia apenas dois personagens. Depois de ler o texto é possível perceber algumas características de um personagem e apenas uma de outro. A respeito daquele homem podemos dizer o seguinte: via Jesus apenas como um mestre, um ensinador; pensava que a vida eterna se atinge por meio daquilo que se faz; e sua maior confiança estava depositada nas muitas propriedades que possuía. Sobre o outro personagem, Jesus, o texto revela uma coisa: Jesus amou aquele homem. Amou-o como ele era, com seu pensamento errado a respeito de Jesus, com sua ideia equivocada sobre salvação e também com seu grande apego nas suas propriedades, nas quais confiava acima de tudo. O evangelista Marcos julgou muito importante registrar o amor de Jesus por aquele homem rico. Este texto também se encontra em Lucas e Mateus, mas nenhum dos dois faz o registro do amor de Jesus por aquele pecador. Os leitores de Marcos eram romanos na sua maioria. Logo, não é errado imaginar que o evangelista quisesse destacar o fato de que o amor de Jesus não é seletivo, mas também se dirigia a um judeu com todos os equívocos que trazia consigo.
O texto parece revelar que Jesus teve dois objetivos com aquilo que falou para o homem rico: o de mostrar que não era apenas um mestre, um ensinador e também o de revelar para o homem que o seu zelo por cumprir os mandamentos e ainda fazer algo a mais que, porventura, faltasse para alcançar a vida eterna, não era o suficiente, pois lhe faltava uma coisa, a principal: “Vai, vende tudo o que tens, e dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céu; então, vem e segue-me”. Faltava-lhe uma obra para ser salvo, uma grande obra! O quê? Uma obra? Será isso mesmo, meus alunos de Sistemática 2? Será que o texto contraria aquilo que estudamos naquela disciplina?
Não há como negar que se tratava de uma obra. No entanto, caso aquele hom
em a fizesse, a faria por uma única razão: por confiar na palavra de Jesus, não de um mestre que estava colocando diante dele ainda algo a fazer, porém do Senhor que mostrava para o homem o que verdadeiramente lhe faltava. Não era a venda das propriedades e a doação do dinheiro para os pobres! Não, era outra coisa: era seguir a Jesus, confiando nele como o Messias, o Cristo, o Salvador do mundo, o único capaz de lhe dar aquilo que desejava alcançar, ou seja, a vida eterna. O que faltava para o homem era confiar no objeto certo. Não eram os mandamentos, os quais julgava cumpri-los desde a juventude. Não eram suas grandes e ricas propriedades, mas Jesus, aquele que ali estava diante dele. A venda das propriedades e o dinheiro dado aos pobres seria a demonstração de que o homem passava a confiar no objeto certo, em Jesus. A confiança que salva é apenas uma: aquela que está no objeto certo. Ela salva não por ser confiança, mas por causa do que recebe do objeto, por causa do que recebe de Jesus. A confiança, ou a fé, é somente o meio pelo qual recebemos o que Jesus traz para aqueles que o seguem.
O cavalo passou encilhado diante daquele homem e ele não o montou, pelo menos naquela ocasião. Se isso ainda aconteceu mais tarde, não o sabemos. Tomara que sim! Aquele homem se encontrava entre duas coisas: o amor de Jesus por ele ou o amor dele por suas muitas propriedades e a riqueza que elas lhe davam. Não temos as riquezas daquele homem certamente, contudo também possuímos nossos bens que amamos muito. Jamais estaremos livres de imitar aquele homem. Isso acontece quando consideramos o que temos, o que gostamos, o que desejamos, como as coisas mais importantes, mais confiáveis, mais seguras para dar sentido e gosto para nossa vida. Acabam se tornando mais urgentes do que seguir a Jesus em fé, com a confiança de que dele vem o maior tesouro: o tesouro do céu. O que nos salva desse perigo? O que nos salva de não montar no cavalo que passa encilhado porque, enganados, damos mais atenção e valor para outras coisas? O que nos salva é o olhar amoroso de Jesus para nós. No meio desta permanente tensão em que vivemos, entre o amor de Jesus por nós e o nosso amor por outras coisas, o Salvador olha por nós com amor. Por isso ele faz tudo que precisamos para não termos dúvidas, não termos medo de que a confiança nele nos traz a maior riqueza: o tesouro no céu. Tudo depende do olhar amoroso de Jesus por nós, aquele olhar que Marcos registrou no seu relato. Aquele olhar que ele nos dirige quando chega a nós junto da água do batismo; aquele olhar que ele volta sobre nós quando se aproxima de nós por meio do seu evangelho; aquele olhar que ele direciona a nós tão graciosamente quando vem com o pão e o vinho da santa ceia! É do olhar amoroso de Jesus que aprendemos onde está o objeto certo da nossa confiança para salvação! É do olhar amoroso de Jesus que brota o poder para continuarmos confiando na coisa certa! É do olhar amoroso de Jesus que nasce o perdão para as vezes em que caímos em desconfiança diante do que ele nos oferece! É do olhar amoroso de Jesus que, no dia do seu retorno à terra, receberemos o glorioso convite: “Venham, benditos de meu Pai, entrem na posse do reino que está preparado para vocês”. O reino celeste, o verdadeiro e maior tesouro! Como é bom viver debaixo do olhar amoroso de Jesus! Amém.
Prof. Dr. Paulo Moisés Nerbas, em mensagem proferida no devocional com Santa Ceia do dia 14 de outubro de 2015 do Seminário Concórdia.