Sobreveio a lei para que avultasse ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça vv. 20.
Estimados irmãos em Cristo, no nosso contexto atual aonde é que graça de Deus quer abundar, ou em quais situações? Existiria um lugar que Deus não estaria presente com a sua graça?
Na semana passada, estive acompanhando um pouco as manifestações das pessoas no “Facebook” e era impressionante o que escreviam a respeito do carnaval. Algumas frases do tipo: “Sou cristão não da carne”; “Sou uma nova criatura, o carnaval não é pra mim”; “Ser cristão é nadar contra a natureza” e até umas mais radicais como esta: “Abertas as inscrições para o inferno”.
A graça de Deus está presenta na vida daquelas pessoas? Será que Deus não estava no meio de toda aquela folia?
O texto da perícope aponta para um contexto onde Deus jamais poderia estar presente, o pecado desvendado no jardim do Éden através de Adão: por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12) A partir desse fato, Deus não poderia mais estar junto das pessoas, a história da humanidade seria afetada e a vida passou a ser uma catástrofe interna. A harmonia que existia entre o Criador e a criatura foi rompida pelo pecado, e resultou na morte. A criatura passou a ser dominada pelo medo, pela dor, pelo sofrimento, pela perdição e a condenação.
E no pior cenário que existiu na humanidade no pecado de Adão, que é o nosso pecado, a graça de Deus quis se mostrar presente na vida dele. Numa esperança de que a coisa seria diferente. Na promessa registrada em Gênesis 3.15 “porei inimizade entre ti a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. A graça de Deus se revelava na promessa de que ele jamais desistiria da sua criatura. E, é neste sentido que o apóstolo Paulo afirma: se pela ofensa de um só, morremos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, serão abundantes.
Pelo lado de Adão, nós temos uma transgressão e um resultado: a Condenação. Pelo lado de Cristo há o milagre de sermos aceitos novamente por Deus, termos paz por médio do seu filho. Pois Deus tirou e peso da morte sobre o ser humano.
No lado de Adão, existe o peso da Lei que não pode ser cumprida pelo homem. No lado de Cristo, temos o lindo presente da graça. É algo estabelecido por Deus desde a queda em pecado e não pode ser mudado, pois a sua graça se encontra na cruz de Cristo.
Sendo assim, onde nós nos situamos? Com Paulo queremos reconhecer a força do mal que reside em nós. Com ele pedimos a Deus para que reconheçamos cada dia mais a força e a dimensão dessa graça salvadora. Com Paulo vemos que estamos propensos ao pecado que habita em nós e é muito fácil cair. O pensar: isso nunca vai acontecer comigo, eu não vou cair nesse ou naquele pecado; não é um pensamento correto. Este é um caminho muito perigoso. O correto é dizer: posso fazer todo e qualquer pecado, tenho tudo pra isso, mas a graça de Deus não permite. Porém, se cairmos em pecado, é nesse momento que a graça de Deus é mais relevante.
Assim foi com Adão quando ele pecou. Adão pensava que Deus jamais estaria com ele após a queda, mas acontece o contrário. Vemos um Deus que não mede esforços para buscar e salvar a sua criatura. No caso de Adão, que é o nosso caso, Deus toma a iniciativa de ir ao encontro da sua criatura. Ele demonstra que não há circunstancia que não possa ser mudada, compreendida ou perdoada. Se a morte é um fato em nossa vidas, a graça de Deus e ressurreição é a certeza de que Deus vai além.
E ainda, queremos que Deus nos ensine a vencer a nossa própria resistência. A oportunidade de Deus chegar com sua graça é no momento que estamos na desgraça do pecado. Neste sentido, Lutero, parafraseando o versículo 20 afirma: E se muitos pecados são, em Deus mais graça temos. Não tem limites seu perdão; sempre o receberemos (Lutero – hino 349). Havia citado no início todo o que envolve o carnaval e as frases que vemos e ouvimos. O que não ouvimos muito é que nesse ambiente, Deus quer abundar a sua graça também. As pessoas que estão na folia, seja qual seja a motivação delas para frequentar o ambiente, são as mesmas pessoas que Deus decidiu derramar a sua generosidade e misericórdia infinita por meio do seu Filho.
Pois Jesus, quando veio a este mundo, veio para resgatar, devolver a vida das pessoas no sentido de vida eterna. Mas também veio para moldar e oferecer o seu amor no dia a dia sem cobrar um comportamento moral de cobrança e punição. E quais tipos de pessoas eram? Pecadoras, prostitutas, corruptos, pobres, desamparados e aflitos; pessoas que a sociedade muitas vezes julgava como as piores que cometiam as piores atrocidades. E Jesus ia ao encontro dessas pessoas; olhava para elas, conversava, dormia e comia na casa delas, e assim, pregava a sua mensagem da graça de Deus que é dom, algo que não merecemos, mas Deus faz abundar na vida de qualquer pessoa.
No nosso contexto do seminário, vemos os reflexos dessa graça a cada novo dia: quando estamos cansados, sobrecarregados, decepcionados com os nossos colegas, talvez professores ou nós mesmos. É neste momento que Deus faz a sua graça transparecer, e as virtudes do seu reino aparecer em nossa vida. Quando o semestre estará pesado ou quando vamos sentir saudades das pessoas que amamos e estão distante de nós, Deus estará oferecendo a sua graça. Quando no futuro e mesmo agora tivermos dificuldades na organização do tempo ou nos conflitos de uma congregação, Deus estará oferecendo o seu apoio com a sua graça que não tem fim e se renova a cada novo dia. Pois vivemos no tempo da graça e este tempo não terá fim. Este tempo foi inaugurado por Cristo, o recebemos no nosso batismo, e com sua graça somos conduzidos ao céu.
“Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo esteja com todos nós” Amém.
Autor: Walterson Junior Siewert Lang, sexto ano teológico, Seminário Concórdia.