Sermão - Mc 7.14-23
Introdução
Nas últimas semanas fiquei chocado e com certeza outros ficaram com algumas manchetes muito pesadas na internet e em outros meios de comunicação. Uma delas:
“Gaúcho confessa assassinato de esposa e filha de oito meses no Ceará”. Em sua confissão ele disse que, por uma discussão banal, atirou em Adriana e Jade, enquanto estas dormiam".
http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2015/08/gaucho-confessa-assassinato-de-esposa-e-filha-de-oito-meses-no-ceara-4832110.html
O que desperta em nós um fato como esses? O que merece uma pessoa que mata a sua esposa e sua filha de oito meses? A julgar por alguns comentários da matéria, podemos obter uma resposta do que se esperaria de alguém que tira a vida de duas pessoas de forma tão covarde e absurda:
Ira, indignação, condenação! É isso que sentimos; é isso que esperamos!
O fato
A ira e a indignação diante de fatos como esse é quase inevitável. O ser humano quer justiça, quer que pecados como esse e outros sejam devidamente pagos. Pessoas assim devem sofrer a devida condenação e pagar por isso.
Deus também pensa assim. Deus também sofre com a ira contra o pecado. Alguém precisa pagar pelo pecado e satisfazer essa ira de Deus.
A cruz de Cristo
A cruz de Cristo não é apenas um pagamento que teria que ser feito para nos libertar dos pecados. Embora não tivesse sido necessária essa obra de Jesus na cruz e todo o seu sofrimento, foi ali que Deus colocou sobre os ombros do seu Filho toda a sua ira e vingança sobre o pecado.
“O maior ladrão, assassino, adúltero, assaltante, profano, blasfemo que já existiu em algum lugar do mundo [...] Jesus tem e carrega em seu corpo o pecado deles e todos os pecados de todos os homens” (Lutero – KOLB, p.152-153)
A vingança de Deus e toda a sua ira contra o pecado não atingiu os pecadores, mas o Homem sem pecado que estava em lugar deles, o próprio Filho de Deus. Jesus suportou em dor e agonia, toda a ira de Deus e a silenciou.
É por isso que é na cruz de Jesus que podemos encontrar o amor de Deus. Amor sem restrições, sem condições, simplesmente estar pronto para o outro, tomar o lugar do outro, nem se fosse para suportar toda a ira e a vingança de Deus sobre o pecado e até mesmo ir ao inferno e sofrer a dor mais intensa de se sentir abandonado pelo Pai.
Ele simplesmente nos amou, assumiu o nosso lugar e agora com ele temos o perdão e a paz. Também estamos salvos da ira de Deus por todo o nosso pecado.
O texto
De onde vem o pecado? “Do coração do homem procedem os maus desígnios”, disse Jesus. Na conversa com os discípulos Jesus esclarece com suas palavras que a origem dos males está no coração. Aqui coração pode ser sinônimo de pecado original, de natureza pecaminosa do ser humano. É de dentro de nós que nascem nossos problemas.
Ele deu esse recado aos fariseus e escribas, muito preocupados com a aparência exterior, depois disse isso à multidão e num terceiro momento ele falou isso em particular aos seus discípulos. O problema do ser humano é ele mesmo e o pecado que ele está sujeito a cometer e que é motivo da ira de Deus.
Deus ficou irado e fica irado com o pecado do seu povo. Mas essa sua ira ele colocou na conta de Jesus e essa é a melhor notícia que se pode ouvir e crer. Deus não nos olha com ira, pois entre ele e nós está a cruz do seu Filho. Lá foi colocada a sua vingança sobre o pecado e onde podemos encontrar o amor e olhar para Deus como um Pai amoroso.
Poderia ter sido eu
Foi um gaúcho que assassinou cruelmente sua esposa e sua filha, mas poderia ter sido um paranaense, um capixaba, um rondoniano, um mineiro, um catarinense, um paulista, um mato-grossense, um pernambucano. Poderia ser um de nós!
Todos nós somos vítimas do pecado e de um coração de onde nascem males e não formamos um grupo seleto que estamos imunes a praticar pecados como aquele, praticamos outros e poderíamos ter praticado o mesmo e por isso o nosso pecado também está debaixo da ira de Deus e dependemos de quem suportou essa ira em nosso lugar, Jesus, para sermos salvos dela.
Ilustração
Havia certo homem que um dia estava na sacada da sua casa e viu uma mulher tomando sol. Ele se interessou por ela, eles tiveram um caso e ela engravidou.
Este homem ficou um pouco preocupado com a repercussão que isso teria e por isso chamou o marido daquela mulher, que estava numa guerra e de quem era chefe, e pediu para este descansasse um pouco, ficasse em casa, dormisse com sua mulher e desfrutasse de sua companhia.
Mas aquele soldado disse que não poderia fazer isso, pois os colegas dele estavam em guerra e ele não ficaria à vontade ficando em casa enquanto seus amigos estavam em perigo.
Quando o chefe do homem ficou sabendo disso, chamou ele de novo e resolveu se sentar com ele, conversar, comer e beber. A esperança agora era de ele fosse para casa e finalmente se deitasse com sua mulher. Mas isso de novo não aconteceu.
Por isso ele envia o marido da mulher com quem tinha tido um caso para o front da guerra, para que ele fosse morto e o seu problema finalmente fosse resolvido.
E foi isso que aconteceu. O homem acabou morrendo na guerra. Quando ficou sabendo, o homem adúltero disse: É assim mesmo. É a guerra. A morte ocorre dos dois lados.
De um coração só, saiu o adultério, a soberba, a loucura, o homicídio, maus desígnios, hipocrisia. O que merece esse homem? Condenação, claro!
Quem é este homem? É Davi. Mas poderia ter sido eu, poderia ter sido você.
O povo de Deus é vítima do coração mau
Mesmo o povo de Deus é vítima do coração mau. E aqui reside um perigo do pecado deliberado. Persistir em pecados, pode significar a falta do verdadeiro arrependimento e da confiança em Deus. Assim como aconteceu com Davi. Ainda que estejamos sob o gracioso cuidado e governo de Deus, ainda que estejamos salvos da ira de Deus e da condenação da lei, isto não significa que estamos acima da vontade de Deus para a nossa vida.
A lei de Deus não existe para fazer a nossa vida difícil, e nem será ela que nos moverá a lutar contra o pecado, mas como parte da criação de Deus, ela continua cumprindo o seu papel de revelar nosso coração pecaminoso e dar contornos à liberdade que Cristo conquistou por nós. Ela também nos dá padrões de comportamento que favoreçam ações amorosas conosco mesmos e com o próximo. Ao falar de pecados que contaminam o ser humano, Jesus está desaprovando esses pecados, pois eles não só contaminam, mas prejudicam nosso relacionamento com outras criaturas de Deus.
Quando olhamos para o mal fora de nós, que nos assusta e nos deixa com a sensação de impotência e fragilidade, de ira, ás vezes, e até culpamos direta ou indiretamente ao próprio Deus, podemos lembrar que independente de qualquer coisa, Cristo pagou e sofreu também por este mal. Jesus se submeteu à execução do juízo de Deus sobre a ira, também sobre o mal que está fora de nós.
Também podemos ser vítimas de amargura e tristeza pelo mal que está dentro de nós e que não conseguimos controlar. Jesus nos assiste em solidariedade conosco, para nos ajudar a compreender que o mal dentro de nós foi perdoado, que a vida pode ser significativa e feliz mesmo em meio a males e que o próprio Filho de Deus está junto no enfrentamento dos nossos problemas e lutas diárias.
Sofremos junto com Cristo, mas também saímos vitoriosos junto com ele, pois assim como ele ressuscitou vitorioso, nós também fomos ressuscitados para uma nova vida. Foi o batismo que nos conferiu isso e nós vivemos nessa nova realidade, nessa esperança. Nós estamos unidos a Cristo, por isso somos justos e não estamos mais sujeitos a sua ira.
Também não precisamos perguntar nas horas sombrias, de escuridão, carências e dúvidas, onde está o Senhor?! Pois ele está com a gente e não há escuridão que ele não possa tornar em luz; desespero que ele não mude em esperança; choro, em alegria; pecados, em perdão; inquietude, em paz; incerteza, em certeza; caos, em serenidade.
Conclusão
Depois de tudo isso, o que me resta dizer? “Em mim não habita bem nenhum”. Que o mal que me acontece ainda é pouco por todo o mal que está em mim. Mas também, “Deus não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos, e será que junto com o Filho, não nos daria todas as outras coisas”? Sim! Amém!
Prof. Ms. Anselmo Ernesto Graff, em mensagem proferida no devocional com Santa Ceia do dia 02 de setembro de 2015 do Seminário Concórdia.
Nas últimas semanas fiquei chocado e com certeza outros ficaram com algumas manchetes muito pesadas na internet e em outros meios de comunicação. Uma delas:
“Gaúcho confessa assassinato de esposa e filha de oito meses no Ceará”. Em sua confissão ele disse que, por uma discussão banal, atirou em Adriana e Jade, enquanto estas dormiam".
http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2015/08/gaucho-confessa-assassinato-de-esposa-e-filha-de-oito-meses-no-ceara-4832110.html
O que desperta em nós um fato como esses? O que merece uma pessoa que mata a sua esposa e sua filha de oito meses? A julgar por alguns comentários da matéria, podemos obter uma resposta do que se esperaria de alguém que tira a vida de duas pessoas de forma tão covarde e absurda:
- Estou procurando parceria para construir uma máquina de moer carne tamanho gigante, alguém quer me ajudar nesse projeto?
- Passa a "peixeira" no bucho desse "cabra"
- Pena de morte, uma vida pela outra!
- Se fosse parente meu, faria questão que respondesse o crime em liberdade, já estaria na horizontal. Lixo.
- Monstro, tinha que morrer, imagina fazer isso com a esposa e com esse bebê inocente de 8 meses, que pecado, aonde vamos parar? Esse mundo está perdido.
Ira, indignação, condenação! É isso que sentimos; é isso que esperamos!
O fato
A ira e a indignação diante de fatos como esse é quase inevitável. O ser humano quer justiça, quer que pecados como esse e outros sejam devidamente pagos. Pessoas assim devem sofrer a devida condenação e pagar por isso.
Deus também pensa assim. Deus também sofre com a ira contra o pecado. Alguém precisa pagar pelo pecado e satisfazer essa ira de Deus.
A cruz de Cristo
A cruz de Cristo não é apenas um pagamento que teria que ser feito para nos libertar dos pecados. Embora não tivesse sido necessária essa obra de Jesus na cruz e todo o seu sofrimento, foi ali que Deus colocou sobre os ombros do seu Filho toda a sua ira e vingança sobre o pecado.
“O maior ladrão, assassino, adúltero, assaltante, profano, blasfemo que já existiu em algum lugar do mundo [...] Jesus tem e carrega em seu corpo o pecado deles e todos os pecados de todos os homens” (Lutero – KOLB, p.152-153)
A vingança de Deus e toda a sua ira contra o pecado não atingiu os pecadores, mas o Homem sem pecado que estava em lugar deles, o próprio Filho de Deus. Jesus suportou em dor e agonia, toda a ira de Deus e a silenciou.
É por isso que é na cruz de Jesus que podemos encontrar o amor de Deus. Amor sem restrições, sem condições, simplesmente estar pronto para o outro, tomar o lugar do outro, nem se fosse para suportar toda a ira e a vingança de Deus sobre o pecado e até mesmo ir ao inferno e sofrer a dor mais intensa de se sentir abandonado pelo Pai.
Ele simplesmente nos amou, assumiu o nosso lugar e agora com ele temos o perdão e a paz. Também estamos salvos da ira de Deus por todo o nosso pecado.
O texto
De onde vem o pecado? “Do coração do homem procedem os maus desígnios”, disse Jesus. Na conversa com os discípulos Jesus esclarece com suas palavras que a origem dos males está no coração. Aqui coração pode ser sinônimo de pecado original, de natureza pecaminosa do ser humano. É de dentro de nós que nascem nossos problemas.
Ele deu esse recado aos fariseus e escribas, muito preocupados com a aparência exterior, depois disse isso à multidão e num terceiro momento ele falou isso em particular aos seus discípulos. O problema do ser humano é ele mesmo e o pecado que ele está sujeito a cometer e que é motivo da ira de Deus.
Deus ficou irado e fica irado com o pecado do seu povo. Mas essa sua ira ele colocou na conta de Jesus e essa é a melhor notícia que se pode ouvir e crer. Deus não nos olha com ira, pois entre ele e nós está a cruz do seu Filho. Lá foi colocada a sua vingança sobre o pecado e onde podemos encontrar o amor e olhar para Deus como um Pai amoroso.
Poderia ter sido eu
Foi um gaúcho que assassinou cruelmente sua esposa e sua filha, mas poderia ter sido um paranaense, um capixaba, um rondoniano, um mineiro, um catarinense, um paulista, um mato-grossense, um pernambucano. Poderia ser um de nós!
Todos nós somos vítimas do pecado e de um coração de onde nascem males e não formamos um grupo seleto que estamos imunes a praticar pecados como aquele, praticamos outros e poderíamos ter praticado o mesmo e por isso o nosso pecado também está debaixo da ira de Deus e dependemos de quem suportou essa ira em nosso lugar, Jesus, para sermos salvos dela.
Ilustração
Havia certo homem que um dia estava na sacada da sua casa e viu uma mulher tomando sol. Ele se interessou por ela, eles tiveram um caso e ela engravidou.
Este homem ficou um pouco preocupado com a repercussão que isso teria e por isso chamou o marido daquela mulher, que estava numa guerra e de quem era chefe, e pediu para este descansasse um pouco, ficasse em casa, dormisse com sua mulher e desfrutasse de sua companhia.
Mas aquele soldado disse que não poderia fazer isso, pois os colegas dele estavam em guerra e ele não ficaria à vontade ficando em casa enquanto seus amigos estavam em perigo.
Quando o chefe do homem ficou sabendo disso, chamou ele de novo e resolveu se sentar com ele, conversar, comer e beber. A esperança agora era de ele fosse para casa e finalmente se deitasse com sua mulher. Mas isso de novo não aconteceu.
Por isso ele envia o marido da mulher com quem tinha tido um caso para o front da guerra, para que ele fosse morto e o seu problema finalmente fosse resolvido.
E foi isso que aconteceu. O homem acabou morrendo na guerra. Quando ficou sabendo, o homem adúltero disse: É assim mesmo. É a guerra. A morte ocorre dos dois lados.
De um coração só, saiu o adultério, a soberba, a loucura, o homicídio, maus desígnios, hipocrisia. O que merece esse homem? Condenação, claro!
Quem é este homem? É Davi. Mas poderia ter sido eu, poderia ter sido você.
O povo de Deus é vítima do coração mau
Mesmo o povo de Deus é vítima do coração mau. E aqui reside um perigo do pecado deliberado. Persistir em pecados, pode significar a falta do verdadeiro arrependimento e da confiança em Deus. Assim como aconteceu com Davi. Ainda que estejamos sob o gracioso cuidado e governo de Deus, ainda que estejamos salvos da ira de Deus e da condenação da lei, isto não significa que estamos acima da vontade de Deus para a nossa vida.
A lei de Deus não existe para fazer a nossa vida difícil, e nem será ela que nos moverá a lutar contra o pecado, mas como parte da criação de Deus, ela continua cumprindo o seu papel de revelar nosso coração pecaminoso e dar contornos à liberdade que Cristo conquistou por nós. Ela também nos dá padrões de comportamento que favoreçam ações amorosas conosco mesmos e com o próximo. Ao falar de pecados que contaminam o ser humano, Jesus está desaprovando esses pecados, pois eles não só contaminam, mas prejudicam nosso relacionamento com outras criaturas de Deus.
Quando olhamos para o mal fora de nós, que nos assusta e nos deixa com a sensação de impotência e fragilidade, de ira, ás vezes, e até culpamos direta ou indiretamente ao próprio Deus, podemos lembrar que independente de qualquer coisa, Cristo pagou e sofreu também por este mal. Jesus se submeteu à execução do juízo de Deus sobre a ira, também sobre o mal que está fora de nós.
Também podemos ser vítimas de amargura e tristeza pelo mal que está dentro de nós e que não conseguimos controlar. Jesus nos assiste em solidariedade conosco, para nos ajudar a compreender que o mal dentro de nós foi perdoado, que a vida pode ser significativa e feliz mesmo em meio a males e que o próprio Filho de Deus está junto no enfrentamento dos nossos problemas e lutas diárias.
Sofremos junto com Cristo, mas também saímos vitoriosos junto com ele, pois assim como ele ressuscitou vitorioso, nós também fomos ressuscitados para uma nova vida. Foi o batismo que nos conferiu isso e nós vivemos nessa nova realidade, nessa esperança. Nós estamos unidos a Cristo, por isso somos justos e não estamos mais sujeitos a sua ira.
Também não precisamos perguntar nas horas sombrias, de escuridão, carências e dúvidas, onde está o Senhor?! Pois ele está com a gente e não há escuridão que ele não possa tornar em luz; desespero que ele não mude em esperança; choro, em alegria; pecados, em perdão; inquietude, em paz; incerteza, em certeza; caos, em serenidade.
Conclusão
Depois de tudo isso, o que me resta dizer? “Em mim não habita bem nenhum”. Que o mal que me acontece ainda é pouco por todo o mal que está em mim. Mas também, “Deus não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos, e será que junto com o Filho, não nos daria todas as outras coisas”? Sim! Amém!
Prof. Ms. Anselmo Ernesto Graff, em mensagem proferida no devocional com Santa Ceia do dia 02 de setembro de 2015 do Seminário Concórdia.